Jornal de Mafra – Afirmou recentemente, ter estatuto e influência, mas não lhe faltará alguma experiência executiva?
Duarte Pacheco – Eu fui vereador da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço durante oito anos e ganhei aí alguma experiência executiva. Na Assembleia da República eu integro a Mesa da assembleia há mais de vinte anos e essa função não passa só por estar sentado na mesa e há muito trabalho executivo envolvido no desempenho dessas funções.
O que mais precisamos aqui é de uma gestão empresarial e isso vem-me da área da consultadoria. Gerir uma autarquia não é muito diferente de gerir uma empresa, por exemplo, em termos de recursos humanos, mantendo as pessoas motivadas e adstritas às funções para as quais têm um perfil mais adequado.
Não havendo numa autarquia, ao contrário daquilo que acontece nas empresas, a preocupação com a maximização da receita e com a receita diária, uma vez que as receitas resultam de impostos ou de transferências do orçamento geral do estado, na verdade, pode haver formas de engenharia financeira destinadas a maximizar as receitas, através do acesso a fundos europeus, e pela capacidade de atrair mais investimento, mais empresas e mais residentes, que representam o pagamento de mais taxas e de mais impostos. De seguida, há que afetar os recursos existentes às prioridades.
Queremos fazer uma revolução tranquila, vamos deixar uma marca e iremos colocar Torres Vedras no mapa
Uma das coisas boas que a consultadoria proporciona é o facto de trabalharmos com instituições e setores muito distintos, passando pela elaboração de planos estratégicos para empresas e mesmo para concelhos, por candidaturas a fundos europeus, pela elaboração de planos de reestruturação de serviços, inclusivamente para autarquias. Recordo que, quando Luís Filipe Menezes liderava a autarquia de Gaia, uma empresa para a qual trabalhei, reestruturou todos os serviços da câmara e desenvolvemos também vários projetos para a câmara de Ourém.
A minha experiência na consultadoria representa uma clara mais-valia para as funções a que agora me estou a candidatar.
Jornal de Mafra – Relativamente à atividade turística, Torres Vedras sofre de uma clara sazonalidade, que propostas tem para resolver este problema?
Duarte Pacheco – Não tenho a pretensão de saber tudo e quem me conhece sabe que sou humilde, sempre disponível para aprender e para ouvir e depois para ajuizar e decidir. Isto, para dizer que nós temos uma grande prioridade genérica, que passa por uma visão de futuro que permita identificar onde queremos que o concelho esteja em 2030. Entendemos a preocupação dos autarcas com os problemas de dia a dia, mas é necessário parar um pouco para pensar o futuro, e nós queremos pensar esse futuro, criando um Conselho Estratégico que tenha ex-presidentes de câmara, personalidades da cultura, do desporto, da economia, da religião, o nosso Cardeal Patriarca, que também é torreense.
Temos também de manter uma política de proximidade às pessoas, para a resolução dos pequenos problemas, o buraco que tenham ao pé da porta, ou os contentores de lixo que denotem alguma sujidade, ou as pedras soltas na calçada.
Jornal de Mafra – Pensa em dedicar especial atenção a que áreas?
Duarte Pacheco – Sublinho três prioridades, saúde, acessibilidade e recuperação do centro histórico.
Temos dois problemas gravíssimos na área da saúde, o problema do hospital, que não responde, como se viu recentemente com a pandemia, que leva ao desespero os profissionais de saúde que lá trabalham e a administração, porque não tem condições de resposta.
Jornal de Mafra – Não reconhece que esse problema tem sido tratado por uma estrutura intermunicipal e não só pela câmara de Torres Vedras?
Duarte Pacheco – É verdade, mas temos de fazer aqui um ponto de situação. Eu posso querer namorar com alguém, mas devo ter os pés bem assentes na terra e perceber ao fim de algum tempo, se a outra pessoa está disponível para namorar comigo ou não. Porque posso ter de partir para outra. O ideal é que este namoro resulte, mas se percebermos que não vai a lado nenhum, não valerá a pena ficar à espera do entendimento intermunicipal e temos que avançar por nós próprios.
Jornal de Mafra – Não resultando o namoro que tipo de hospital defende para Torres Vedras?
Duarte Pacheco – Ou o governo decide, mesmo sem ter o acordo de todos os municípios, a construção de um centro hospitalar único, e isto era o ideal, para ter escala, ou caso o governo opte por não tomar decisão nenhuma, temos de ser nós a procurar uma solução. Uma solução que pode consistir na constituição de uma parceria publico privada.
Ainda na área da saúde temos o problema da falta de médicos de família, obrigando-nos a criar no concelho condições de atratividade. Já neste mandato, os nossos vereadores propuseram à câmara municipal, que o concelho encontrasse formas de atrair médicos, através da concessão de residência ou por outras vias, mas essa nossa proposta foi recusada pela maioria socialista.
Hoje realizam-se eventos desportivos preferencialmente na Ericeira e depois em Peniche e Nazaré e estes 20 quilómetros de costa parece que não existem
Jornal de Mafra – Quanto às acessibilidades, as propostas que têm em carteira destinam-se sobretudo a servir Santa Cruz?
Duarte Pacheco – O desenvolvimento de Santa Cruz depende das suas acessibilidades. Há 40 anos, era miúdo, já vinha para Santa Cruz e já fazia a mesma estrada que temos de fazer hoje, com a agravante de haver hoje mais gente e mais carros.
É um inferno chegar e sair de Santa Cruz. A via rápida tem de ser construída a partir do nó da A8. Até aqui, mudam os governos, sucedem-se os autarcas, mas quando terminam o mandato, a desculpa mantém-se, “ah, o governo não nos ouviu, o governo não fez”.
Ou os autarcas não têm influência sobre o governo, ou não têm capacidade de encontrar soluções alternativas. Temos aqui ao lado, o bom exemplo de Mafra, onde o engenheiro Ministro dos Santos fez a autoestrada até à Ericeira.
Jornal de Mafra – Defende que seja a câmara a construir a variante de Santa Cruz?
Duarte Pacheco – Nós não podemos chegar ao final do mandato a chorar, a dizer que não fomos ouvidos. Se o governo não for sensível à necessidade de resolver este problema, há que procurar outras soluções. Eu não tenho paciência para perder tempo, até porque o problema das acessibilidades também afeta outras localidades.
Hoje realizam-se eventos desportivos preferencialmente na Ericeira e depois em Peniche e Nazaré e estes 20 quilómetros de costa parece que não existem.
O estado do centro histórico de Torres Vedras é altamente degradante
Jornal de Mafra – Relativamente ao centro histórico, que soluções defende
Duarte Pacheco – Esse é um exemplo do falhanço da política de cidades do atual executivo. Numa cidade, a função de serviços/comércio e a função residencial devem coexistir, evitando a formação de dormitórios que estão desertos durante o dia.
O estado do centro histórico de Torres Vedras é altamente degradante, com imenso comércio fechado e sem vida. Temos de voltar a ter pessoas a viver no centro histórico. Para resolver estes problemas, há autarquias que adquirem os edifícios faseadamente, fazendo depois as obras de remodelação e vendendo-os a preços convidativos, de modo a atrair famílias jovens para os centros das cidades.
Esta é a forma de revitalizar o centro histórico, com pessoas a residir lá, virá depois o pequeno comércio local e regressa a vida a esses espaços. Temos também de resolver o problema do estacionamento para residentes e visitantes, a preços convidativos, seja através da construção de silos, nomeadamente em edifícios abandonados, ou de estacionamentos subterrâneos.
Jornal de Mafra – O que distingue, afinal, o programa da “Afirmar Torres Vedras” de todos os outros programas concorrentes?
Duarte Pacheco – Estes problemas não são de hoje, a pergunta a fazer é se devemos continuar a confiar em quem gere a autarquia há 45 anos e não conseguiu resolver esses problemas. Direi o mesmo, se as pessoas votarem em mim e se os problemas persistirem.
Muitos dos problemas não se resolvem só com a nossa boa vontade, mas necessitam de apoios públicos, nomeadamente, governamentais, e eu tenho a consciência que sou ouvido e poderei assegurar as necessárias sinergias. Por outro lado, só a coligação “Afirmar Torres Vedras” tem condições para se assumir como alternativa.
Jornal de Mafra – Esse é quase um “ataque” à candidatura de PSD a Mafra, onde o seu partido já governa há dezenas de anos.
Duarte Pacheco – Pergunto se os problemas são os mesmos ou se evoluem. É errado pensar que algum dia os problemas acabam, seja onde a responsabilidade é do estado ou onde é das autarquias, o problema é quando os mesmo problemas se eternizam.
Em Mafra havia um problema com as escolas, resolveu-se esse problema. Havia um problema de acessibilidades, resolveu-se esse problema, só para dar dois exemplos.
Em Torres Vedras, estes problemas têm 40 anos, na verdade as pessoas tentaram resolvê-los, mas não conseguiram, e perante isso, vamos confiar nos mesmos ou noutros, e neste caso só há uma alternativa real para que a presidência mude, essa alternativa é a a coligação “Afirmar Torres Vedras”.
Jornal de Mafra – O presidente dos ASD (Autarcas Social Democratas) não esteve na apresentação da sua candidatura. Prevê-se que venha a participar na sua campanha na qualidade de presidente dos ASD?
Duarte Pacheco – O Hélder é um grande amigo, está convidado e comprometeu-se a vir até nós, nos próximos dias. Ele próprio tem a sua campanha e nenhum de nós pode ter a arrogância de pensar que a coisa está ganha, porque não está, porque os eleitores são soberanos.
Todos os candidatos são pessoas dignas e que eu respeito, mas terão de ser os eleitores a pensar se querem que o Partido Socialista continue a governar, ou não
Já cá tivemos o Presidente do partido, três Vice-presidentes, o Secretário Geral, o Presidente do Grupo Parlamentar, o Dr. Marques Mendes esteve aqui na apresentação das listas e outras personalidades virão até Torres Vedras.
Jornal de Mafra – Disse noutra entrevista que se propõe alcançar 40-42% dos votos. Acredita mesmo nisso, tendo em conta a provável pulverização dos votos da direita e do centro direita aqui em Torres Vedras, com o Chega e o Aliança?
Duarte Pacheco – Em concelhos pequenos, a personalidade vale 90% e o partido só valerá uns 10%, e em concelhos como Torres Vedras, o contexto nacional é já relevante.
Jornal de Mafra – Portanto, conta fundamentalmente com a sua imagem e com a sua experiência política, para vencer esta eleição?
Duarte Pacheco – Espero que isso possa contribuir. Todos os candidatos são pessoas dignas e que eu respeito, mas terão de ser os eleitores a pensar se querem que o Partido Socialista continue a governar, ou não. Se não quiserem que o Partido Socialista governe, só há uma força política capaz de o derrotar, não serão os partidos que referiu que toderão ser alternativa.
Jornal de Mafra – A possível pulverização dos votos à direita, não o preocupa?
Duarte Pacheco – Tenho esperança que as pessoas compreendam que numa eleição nacional, essa polarização não impede uma governação de centro-direita porque, tal como aconteceu à esquerda, algo mudou em 2015, pois até aí governava o partido que chegava em primeiro lugar. Amanhã, se os partidos que no parlamento compõem o centro-direita forem maioritários, o PSD governa, mas essa questão não se põe nas autarquias.
Pela lei autárquica governa o partido que chegar em primeiro e as pessoas devem pensar, de forma consciente, se querem que o Partido Socialista continue a governar, votarão no PS ou nos outros partidos que já mencionou, se querem que o Partido Socialista seja substituído na próxima governação, então só há uma alternativa, que é a a coligação “Afirmar Torres Vedras”.
Discordo de muita coisa do Chega, mas se a distribuição de mandatos fosse 4-4-1, eu teria de procurar entendimento com o partido que tenha eleito um vereador, seja esse partido, qual for
Jornal de Mafra – Acordos pós-eleitorais com o partido Chega, estão em cima da mesa?
Duarte Pacheco – Em primeiro lugar vamos trabalhar para ganhar. Não sei se o Chega vai ter mais votos do que o Aliança, se será o PCP a força política com quem seja preciso negociar, ou se será o Bloco de Esquerda.
Eu respeito todos os eleitores e aquelas que forem as suas escolhas. Discordo de muita coisa do Bloco de Esquerda, discordo de muita coisa do Chega, mas se a distribuição de mandatos fosse 4-4-1, eu teria de procurar entendimento com o partido que tenha eleito um vereador, seja esse partido, qual for. Se todos estiverem preocupados com aquilo que é melhor para Torres Vedras e não com a política nacional, haveremos de chegar a entendimento.
Jornal de Mafra – A luta contra a corrupção e o exercício da transparência são valores sempre presentes no discurso político. Como é que olha para estas questões no concelho de Torres Vedras?
Duarte Pacheco – Mais do que fazer acusações, eu vou por isto pela positiva. Nós pretendemos alterar de forma drástica os procedimentos da autarquia e essa é uma das áreas que irei chamar a mim.
Nos últimos meses já contactei com muitas empresas, instituições e particulares e é uma queixa comum a toda a gente, a inércia dos serviços da autarquia, a dar resposta atempada aos seus projetos de investimento, sendo esta situação que gera, muitas vezes situações de corrupção, uma vez que é necessário encontrar formas “expeditas” de ultrapassar essa inércia. Eu não quero que haja essas formas expeditas, que haja favores que depois são pagos com uma garrafa de whisky ou com qualquer outra coisa.
A transparência é fundamental enquanto forma de contrariar potenciais fenómenos de corrupção
A transparência é fundamental enquanto forma de contrariar potenciais fenómenos de corrupção e os procedimentos têm de ser alterados, para que as pessoas, num tempo razoável, saibam que o seu projeto tem uma resposta positiva ou negativa, se as coisas não ocorrerem desta forma, então podem gerar-se condições propícias para aquilo de que falava.
Jornal de Mafra – Falando de transparência, como está o processo relativo à morada declarada e a morada real na Assembleia da República?
Duarte Pacheco – Eu pedi logo que me fosse levantada a imunidade, para poder das as explicações devidas.
A maioria dos deputados não é de Lisboa e durante a semana têm de ficar na capital. Ficam na casa de um familiar, ficam em casa, alugam casa, ficam num hotel ou podem preferir comprar um apartamento. Para assembleia isto devia ser indiferente, restando saber se a pessoa tem a sua vida lá no outro sítio ou não.
A minha vida política e social é feita no Oeste e era feita no Sobral, e agora, se ganhar Torres Vedras, possivelmente terei de repensar essa situação, porque desloco-me para o Sobral, tal como o meu colega de Famalicão, ou o meu colega de Portimão se deslocam para lá aos fins de semana.
A pessoa preferir comprar casa ou ficar num hotel, são opções de vida.
Jornal de Mafra – Ainda em termos transparência…. Relativamente às ausências de Marco Claudino e de Rita Sammer das listas da coligação, o que é que realmente se passou? Os eleitores vão ser deixados às escuras relativamente às razões que estão na base destas ausências?
Duarte Pacheco – Trata-se de dois excelentes quadros do PSD de Torres Vedras. A pessoa que encabeça atualmente a lista à Assembleia Municipal é também uma pessoa de excelência, um empresário de sucesso, que aqui muito construiu e que me deixou muito honrado por ter aceite o meu convite para encabeçar a lista.
Pelo meio houve uma alteração, verdade, o que acontece muitas vezes, quer nas listas de deputados, quer nas listas autárquicas, quando começamos com os problemas de “mercearia”, mas o que importa é que temos excelentes candidatos e vamos perecer a confiança dos torreenses.
Jornal de Mafra – Quem o convidou para assumir a candidatura, Rui Rio ou a estrutura local do psd?
Duarte Pacheco – Foi o Presidente da concelhia de Torres Vedras, Luís Carlos Lopes.
Eu não me apresentei, fui convidado, consideraram que eu seria a pessoa com melhores condições para protagonizar este projeto
Jornal de Mafra – E como é que foi recebido pela estrutura local do PSD, tendo em conta aquilo que depois acabou por acontecer?
Duarte Pacheco – O convite não era pessoal, era da estrutura, da concelhia do PSD, e fui recebido muito bem.
Demorei umas semanas a dar a resposta, porque gosto muito do que faço no parlamento, vivo a vida parlamentar com grande intensidade, e a minha vinda para a Câmara de Torres Vedras significa uma alteração importante da minha vida.
Torres Vedras tem problemas bem reais, tem uma marca que não é conhecida, tem um património nacional nos fortes da Linhas de Torres, sendo que o forte daqui tem uma média de 3 visitantes por dia, tem uma linha de costa que é um buraco negro, da Ericeira passa-nos por cima uma ponte diretamente para Peniche, temos hortícolas que alimentam Lisboa e que são exportadas para a Europa, mas ninguém sabe. Há uma marca só associada ao Carnaval e nada mais. Temos de alterar isto.
Queremos fazer uma revolução tranquila, vamos deixar uma marca e iremos colocar Torres Vedras no mapa.
Jornal de Mafra – Será mais fácil ganhar em Torres Vedras do que seria ganhar o Sobral de Monte Agraço, que é a sua âncora de vida? Há por aqui que lhe chame de “paraquedista”
Duarte Pacheco – A minha mulher é de Portimão, se eu fosse candidato a Portimão, como o Dr. Carlos Bernardes foi candidato ao Sobral, porque a mulher dele é do Sobral, se calhar, podia-se utilizar esse adjetivo.
Pelas funções políticas que tenho desempenhado ao longo dos últimos 30 anos, eu andei sempre aqui, visitei escolas, IPSS, associações culturais e desportivas.
Jornal de Mafra – Entre os militantes do PSD de Torres Vedras não há ninguém capaz de assumir esta tarefa?
Duarte Pacheco – Terá de ser a concelhia a responder a isso. Eu não me apresentei, fui convidado, consideraram que eu seria a pessoa com melhores condições para protagonizar este projeto.
Já pedi aos meus colegas de lista, para no dia 27 me ajudarem a arrumar a tralha que tenho no meu gabinete da Assembleia da República e me ajudarem a trazer tudo aquilo para Torres Vedras.